quinta-feira, 12 de maio de 2011

Nelson Rodrigues - Bonitinha mas ordinária


Pessoal,

Neste final de semana assisti a um filme que há muito tinha vontade. Chama-se Bonitinha mas Ortidinária, e salvo me engano data de 1981. Baseado na obra de Nelson Rodrigues (eu havia lido a peça na graduação), o filme é um primor. Com direção de Braz Chediak, tem um enredo chocante, e traz uma série de discussões a respeito de sociedade e família. Bem ao estilo Nelson Rodrigues, também põe em cheque toda a hipocrisia social que nos rodeia, e mostra o quanto somos condicionados ao meio, seja por opção ou por caráter. O filme é uma tragédia social, e firmou Lucélia Santos como atriz rodrigueana por excelência, devido ao tipo físico exigido pelo autor, mas também pelo caráter de atriz que ela tem. É impossível não ficar chocado com a entrega dessa atriz, que ainda no frescor da sua idade, já mostrava a que veio, assim como a partir da sua atuação pode-se distinguir de outros o verdadeiramente ator, aquele que salta do último trampolim com os olhos vendados, como ela mesma disse ter tido de fazer para quebrar o lustre que a protegia sob às luzes da televisão. José Wilker, Milton Moraes, Vera Fisher e Carlos Kroeber também estão no filme, e com ótimas atuações. Para quem deseja reflexão, e não é afeito a grandes frescuras, fica aqui uma sugestão. Com certeza algumas desconstruções a respeito da vida em sociedade sempre são feitas quando o ser humano se depara com uma obra de Nelson Rodrigues.

Abraços,

Atanael

Aos pedros pedreiros da vida


Prezados leitores,

Ouvi a música do Chico, que me foi apresentada por uma colega de trabalho, e resolvi que deveria postar. Foi depois de uma conversa com minha esposa, Keren, quando refletimos a respeito dessa cultura pós-moderna em que pedros e mais pedros nascem, crescem e vivem a esperar o trem que já vem, que já vem, que já vem... sem, muitas vezes, ter por onde. Estou me sentindo muito pedro pedreiro por esses dias... Deixo a letra e um link, http://www.youtube.com/watch?v=ERmJvNguGXI&feature=related,  para vocês refletirem sobre o assunto.

Abraços,

Atanael


Pedro Pedreiro

Composição : Chico Buarque

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem


sábado, 7 de maio de 2011

A outra cultura - Monteiro Lobato

"A história dos historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos povos. (...) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (...) da humanidade".

Monteiro Lobato
09/05/1913
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, São Paulo.

Guerras Culturais - Terry Eagleton

Tô de volta, pessoal!

Fiquei um tempo fora, porque vivi um momento brabo. Depois de espernear, saltar, e digamos quase pirar, enfim, voltei. Como já havia dito, tomei algumas decisões para poder lidar melhor com o tempo. Estou sentindo que já estou entrando no eixo novamente... Hoje vou deixar aqui um texto que eu rascunhei para uma discussão no meu grupo de estudo na Univille. Tem relação com o capítulo três do livro A idéia de cultura, de Terry Eagleton. O autor, filósofo, que já era doutor aos 24 anos de idade, começou a sua carreira estudando a literatura do século XIX e do século XX, até chegar à teoria literária marxista pelas mãos de outro fenômeno, Raymond Williams. No momento, Eagleton integra estudos culturais com a teoria literária mais tradicional. O texto, que apresento abaixo, é bem "simplezinho", mas em tempos de guerras culturais como as de Obama X Osama, vale à pena conferir. O livro é bom demais, então, se tiverem oportunidade...

Abraços,
Atanael


O termo "guerras culturais" sugere batalhas campais entre populistas e elitistas, como sugere Terry Eagleton, no capítulo de mesmo nome e que está no livro A ideia de cultura. Nesse capítulo o autor atribui a ação de guerrear no locus entre a cultura ocidental e as outras culturas, a que ele denomina como subcultura, dado o olhar depreciativo por parte do ocidente, que não considera outras raças, regiões, outros nacionalismos.
A respeito disso, Eagleton ainda afirma existir um choque entre Cultura e cultura, sendo que a primeira trabalha com valores universais e é capaz de alterar outras culturas. Ora, para Eagleton a palavra cultura possui diferentes acepções, sendo que esta ainda deva necessariamente realçar as diferenças, mas o que acontece em termos de pós-modernidade, sobretudo, no mundo ocidental, é que os interesses políticos é que governam os culturais e o definem como uma versão da humanidade. Fica, então, implícita a ideia de que a sociedade deve ser harmoniosa e responsável, humana e livre de quaisquer conflitos.
Eagleton ainda fala a respeito da existência da Alta e Baixa cultura, atribuindo à Europa a produção da primeira, tendo em vista que sem radicalismo ela "não impõe", mas apenas chama-a à razão. Ora, a Europa, coloca-se como sendo a própria cultura. Essa cultura tem sido usada como emblema espiritual, segundo o autor, de um grupo privilegiado, sendo ainda, que ela não considera os valores das formas de vidas particulares, mas sim, como um todo, como os valores da vida humana. Para Eagleton, a Europa é a encarnação local deste símbolo romântico em que idealizaram a cultura, e como ele mesmo diz, ela teve a sorte de ser escolhida por Geist como lugar onde ele se fez carne, assim como aconteceu com o planeta terra, que teve a sorte de ser o lugar onde Deus optou por se tornar humano.
Além disso, Eagleton afirma que a alta cultura implica numa visão global não só dos interesses próprios, mas também dos outros e que apresenta-se como uma forma de persuasão moral, mas que está fatalmente enfraquecida, pois se desligou de suas raízes religiosas e permitiu que o Ocidente todo ficasse por demais heterogêneo e briguento, contrariando ao que se propunha até então. Nesse sentido, é que todo ocidente perde terreno para chamadas subculturas, como a dos islâmicos, por exemplo, que é para quem a cultura religiosa é absolutamente vital.