sexta-feira, 25 de maio de 2012

Em alto e bom (?) som - Clarice Steil Siewert

Em alto e bom (?) som

Clarice Steil Siewert

São duas horas da tarde de um feriado de Carnaval. Já foi a festa da noite anterior, já foi o banho de mar, já foi a cerveja e o almoço em família. O que resta agora é aquele repouso lânguido na rede, privilégio dos moradores do mundo tropical, momento em que o corpo vai no balanço e a cabeça vira nuvem. E nessa folga rara dos que trabalham demais, “AI SE EU TE PEGO, AI AI SE EU TE PEGO. DELÍCIA, DELÍCIA”, passa um carro qualquer com um som que não deixa mais nenhum pensamento entrar de férias.


Carro com som alto é algum tipo de prova de masculinidade ou algo assim. É alguém se mostrando poderoso e impondo sua vontade e (geralmente) mau-gosto musical. Eu sempre me pergunto quando estou caminhando na praia ou indo comprar pão, por que sou obrigada a ouvir a música deles? “TCHERERE TCHÊ TCHÊ / TCHERERETCHÊ / TCHÊ, TCHÊ, TCHÊ”. Será que não tenho mais direito a devaneios fortuitos?



Eu fico tentando imaginar o que as pessoas que abrem o porta-malas do carro e ligam seus autofalantes, cornetas e subwoofers pensam ao escolher a música? A maioria, eu imagino, pensa simplesmente que “essa é massa, vai bombar”. Então, colocam num volume que quem está perto não consegue conversar e quem está longe não tem outra opção que não ouvir. A minha raiva aumenta ao pensar que tem gente que ainda justifica “se não quer festa, fica em casa”. Se eu quiser festa, eu procuro uma nos lugares determinados. Eu não preciso tomar sorvete às onze horas da manhã ouvindo “TO QUE TO PEGANDO FOGO”.



Carnaval é festa e bagunça, eu sei, mas só é bom quando bem organizado. Senão é só desrespeito e má-educação mesmo. Fazer castelos de areia com as crianças ouvindo “SENTA QUE É DE MENTA, SENTA QUE É DE MENTA” não é bem um momento relaxante. Por incrível que pareça, algumas pessoas vão para praia só para descansar mesmo.



No trânsito de todo dia também temos que ouvir a música dos outros. Mas pelo menos é algo que passa logo. Não fica estacionado no nosso ouvido. Uma vez vi uma reportagem sobre uma festa feita ao ar livre em que os participantes ouviam as músicas com um fone de ouvido. Achei muito interessante. Para participar da festa, era só colocar o fone. Se quisesse conversar com mais calma, era só tirar o fone. E o resto da população mundial poderia continuar suas vidas normalmente. Pensei em distribuir fones de ouvido na praia, nas casas dos vizinhos, fones de ouvido gratuitos pela rua!



Eu quero aproveitar esse espaço e dizer em alto e bom som: DEIXEM MEUS OUVIDOS EM PAZ! Mas faço isso em um instrumento que acredito democrático e o máximo que consigo é usar letras maiúsculas. Não sei se é o suficiente para que ouçam o meu apelo, mas fica aqui o registro. Mesmo que mudassem o repertório, tem momentos que temos direito ao silêncio, até no Carnaval.
CRÔNICA:

Conceituar crônica é um tanto difícil, pois sempre corremos o risco de sermos incompletos. É mais fácil falarmos do papel do cronista. O ser cronista é um ser crítico, e, portanto, é aquele que observa o mundo a sua volta mas não se conforma com a realidade que vê. Sendo assim, coloca no seu texto todas as suas impressões e indagações possíveis, seja ela do cotidiano, da sociedade, da essência humana... Às vezes escreve de forma humorada, às vezes o seu humor não está dos melhores, e, a crônica sendo tão humana transcendo o seu Eu-lírico. Sim, porque crônica é isso aí, pode ser escrita em primeira ou terceira pessoa. Pode ser um caso imaginário ou uma informação colhida ou ainda uma experiência pessoal de seu autor. Nela impera a informalidade, e pode ser descritiva, narrativa, narrativo-descritiva; reflexiva, metalinguística, poética entre outras.
Abro neste espaço um concurso de crônicas para vocês, caros estudantes. Você pode postar sua crônica nos comentários, e após minha leitura, se você autorizar, posso publicar como texto no blog.

Abraços,

Professor Atanael Lemos Corrêa