sábado, 2 de julho de 2011

CLARIDADE - MARIA LÚCIA SIMÕES

PARA REFLETIR:



CLARIDADE

A mulher chegou para o marido com o rosto completamente iluminado e ele se irritou porque há muito se esquecera como e onde se acendia essa luz. E por mais que se esforçasse não conseguiu se lembrar.

A mulher iluminada foi se deitar ao seu lado e ele passou a noite sem dormir porque se acostumara ao escuro."

Maria Lúcia Simões. Contos contidos

sábado, 18 de junho de 2011

Cultura Indígena - Vídeos para produção de Reportagem




PROFECIA REALIZADA HÁ MAIS DE 200 ANOS POR “OLHOS DE FOGO” UM VELHA ÍNDIA CREE(Nação Indígena dos Estados Unidos da América)

“ Um dia a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios.
Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar o homem branco a reverência pela sagrada Terra.
Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris, para terminar com a destruição.
Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Irís “

Fonte: Almanaque do Fazendeiro – Edição 1998 – pág 76

Caros estudantes das 2ªs séries,

Como vocês já vêm algum tempo estudando sobre as questões indígenas nas aulas de Sociologia, proponho então, que façam uma reportagem investigando as questões culturais deste sábio povo que nos acolheu, cuja relação de fidelidade com a natureza, por si só já justifica o quanto merecem o nosso respeito, e quanto temos ainda a aprender. Deixo abaixo, a letra Águia Dourada, de Roberto Carlos para que reflitam, sendo que vocês ainda podem assistir ao vídeo, que é o primeiro link, dentre os muitos que coloquei para que possam ter mais subsídios para fazer o trabalho. Proponho que façam o trabalho em grupo de no máximo 05 pessoas, e não deixem de lado as análises que fizemos das reportagens em sala de aula, pois servirão de base. Numa postagem anterior a esta, tenho o documentário a respeito da construção da Usina de Belo Monte, além de um comentário sobre um conto do escritor Daniel Munduruku, que é um índio.

Abraços,

Professor ATANAEL

ÁGUIA DOURADA

ROBERTO CARLOS / ERASMO CARLOS

Águia bonita que voa no espaço
Aqui da Terra vejo passar
Riscando o azul, dourado traço
Linha ascendente no ar
Eu sou um Índio e aqui do asfalto
Olho no alto caminhos seus
Meus pensamentos sempre te encontram
Voando perto de Deus

Rápido como um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Mostra a esse povo civilizado
Que todo índio sabe viver
Com a natureza sempre a seu lado
E olhando o céu pode ver

Que o vento sopra e a chuva cai
As nuvens passam e você vai
Asas abertas, força e coragem
Vão nesse rumo de paz

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Natureza que reclama
Flores, folhas, verde vida
Rios, mares se derramam pela terra tão ferida
Ventos pedem, choram e chamam

Águia, me mostra no meu caminho
Como se pousa longe do espinho
Como se luta por esse mundo
Como se salva esse ninho

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Rápido com um raio
Repentino como um trovão
Veloz como a águia dourada
Na imensidão

Rápido com um raio


























sábado, 4 de junho de 2011

Liberdade para voar - a Gabriel M. e a outros queridos e autênticos alunos


Caros amigos,

Hoje, 04 de junho, dia de meu aniversário de 35 anos, resolvi me dar um presente. Fiz uma releitura de um conto que havia lido uma vez que fiz um curso de contação de histórias com a Dra Sueli Cagnetti, e que tem como título Tempo de Mudar. Este conto está no livro Tempo de Histórias, de Daniel Munduruku. O conto é autobiográfico, e fala de uma experiência do autor que é índio, mas que se formou professor na cidade, com a missão de ensinar a liberdade para seus estudantes. Ensinar a liberdade dos índios na escola dos brancos não significa o mesmo que ensinar a ser índio. Munduruku academizado ensinou a seus alunos a liberdade dos homens por meio da expressão, da fala, da escrita. Mas nesse conto ele relata o momento em que chegou a hora de se despedir da escola e dos alunos: "Nunca pensei que fosse tão difícil ser educador. Não tanto pelos alunos, mas especialmente pela estrutura educacional ser sempre muito conservadora e não permitir mudanças. E educar jovens requer irreverência, acolhida e dedicação. Esses três elementos se confundem no cotidiano do verdadeiro educador, mas também o realizam". Quando Munduruku anuncia aos alunos a sua saída da instituição, anuncia-se também uma revolta, sendo que muitos de seus estudantes o acusam de covarde. Mas depois de 30 dias, no último dia seu na escola, os alunos lhe preparam uma surpresa: " [...] todos meus alunos estavam pintados, uns no rosto, outros nos braços, meninas com saias de palha, rapazes com maracás em punho, cocares nas cabeças. Chegaram entoando um canto, um lamento. Dirigiram-se ao centro da escola, um pátio circular. [...] Os jovens se assentavam em círculo. Todas as classes da escola vieram ver a cena. [...] no meio da roda o jovem Helder se posicionou. Trazia uma pintura muito bem delineada no corpo. Estava sério. Olhou para todos os colegas e fixou seu olhar em mim. Fiquei espremido com aquele olhar. [...] Helder falou em voz alta para nós: - Hoje é um dia de luto para nós. De luto e de luta. Temos ouvido falar muita coisa sobre a liberdade do outro. Dizem que é saber fazer o bem ou escolher o mal. Isto é ser livre, dizem. Mas será que isso é verdade? Será que alguém pode ser realmente livre? Alguém pode ser livre quando fala de uma estrutura caduca como a escola ou como o Estado ou como a política? Não. Ninguém pode ser livre. E sabem por quê? [...] Certamente não sabem o porquê. A resposta, porém é simples: porque somos escravos das estruturas que criamos e ninguém pode ser livre se se depende dessas mentalidades escravagistas que nossa sociedade possui. Mas há uma modalidade de liberdade que não pode nunca ser tirada das pessoas: a liberdade que mora em nosso pensamento. [...] Hoje estamos tristes porque uma pessoa que nos ensinou a ser livres foi mais uma vítima das estruturas impostas a todos nós. E talvez tenha sido vítima de seu próprio pensamento libertador. Ele nos ensinou a ser livres, pois vive sua liberdade. A ele queremos homenagear com nossa pintura corporal e com nosso canto de guerra e lamento. Caro professor, leve com você nossa gratidão eterna. Hoje somos homens e mulheres livres, graças a sua liberdade. Levaremos conosco, para sempre, as histórias que você nos contou durante nossos encontros. A sabedoria do seu velho avô que virou nosso avô também e nos tornou participantes dos caminhos do universo". O conto e todo o livro é de uma beleza imensa, fala muito de memória, de memória coletiva que este índio-professor levou para os seus alunos ao professar a mensagem dos povos da floresta. Vale à pena ler, mas antes gostaria de explicar-lhes a razão pela qual o escolhi para aqui descrevê-lo. A primeira razão tem a ver com a minha indignação no que diz respeito à maneira como estão sendo tratados nossos professores e toda a educação em  Joinville, em Santa Catarina e em todo o Brasil. A segunda questão diz muito respeito a um vídeo que tive o privilégio de assistir, e que fala sobre a construção da usina de Belo Monte, Xingu. O vídeo é um grito de guerra dos nossos irmãos índios, que contra-argumentam a construção da usnina, prometida pelo governo do PT, e que afetaria a cultura dos nossos índios, assim como implicaria em seu auto-sustento. O que mais  me indigna nesse corpo de Atanael é a indiferença social, mas nesse caso sinto ainda maior indignação pelo fato de ninguém desse governo branco os escutor, ainda o tratam como bichos, como os portugueses que aqui desenbarcaram em 1500. Mas a razão que calou forte em mim, não posso negar, foi quando um aluno entrou em meu blog e elogiou a maneira como me relaciono com meus seguidores. Ele sugeriu que eu deveria também agir do mesmo modo em sala de aula. Fiquei pensando: há um tempo atrás eu encantava meus alunos... sei que os tempos mudaram, e em tempo de hipertextos e hipermídia, ensinar literatura e redação não tem sido uma tarefa tão fácil, principalmente quando as estruturas educacionais mais atrapalham que ajudam. Mas refleti muito sobre o que ele assinalou-me, na verdade doeu-me bastante, e só suportei porque entendi que chegou a hora de mudar, de entender que o período de pós-modernidade, na qual vivemos, não permite que demos conta de tudo. Talvez, tenha chegado o meu tempo de emigrar da sala de aula, talvez a própria estrutura educacional não tenha mais permitido que eu seja realmente eu mesmo, como o sou aqui neste blog. Aqui sou livre, porque falo o que penso e da maneira que quero. Quero que meus estudantes, tal qual os de Daniel Munduruku, sejam livres, mas para o ser, é necessário ler, escrever, buscar... Eu me sinto livre aos 35 de idade, graças a Deus que guiou meus caminhos, graças aos livros que iluminaram minha mente. Talvez nunca o serei como um índio ou como uma águia, mas posso ensinar o caminho para a liberdade a outros, além disso, o sou para mim, e isso me basta.

RESSALVAS:
Sobre a liberdade, gostaria de indicar um filme chamado Pelle, o conquistador. É uma produção sueco-dinamarquesa, digna de estupores (deixo o link abaixo).

Deixo também alguns vídeos relacionados ao que tratei aqui. Mas, principalmente a sugestão para ler o livro de contos indígenas Tempo de Histórias, de Daniel Munduruku.

Abraços,

Atanael

Povos do Xingu contra a construção de Belo Monte:
http://www.youtube.com/watch?v=ZmOozYXozb8

Depoimento da professora Amanda Gurgel:
http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA

Trailler do filme Pelle, o conquistador:
http://www.youtube.com/watch?v=h7eK8nzVMD8

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Nelson Rodrigues - Bonitinha mas ordinária


Pessoal,

Neste final de semana assisti a um filme que há muito tinha vontade. Chama-se Bonitinha mas Ortidinária, e salvo me engano data de 1981. Baseado na obra de Nelson Rodrigues (eu havia lido a peça na graduação), o filme é um primor. Com direção de Braz Chediak, tem um enredo chocante, e traz uma série de discussões a respeito de sociedade e família. Bem ao estilo Nelson Rodrigues, também põe em cheque toda a hipocrisia social que nos rodeia, e mostra o quanto somos condicionados ao meio, seja por opção ou por caráter. O filme é uma tragédia social, e firmou Lucélia Santos como atriz rodrigueana por excelência, devido ao tipo físico exigido pelo autor, mas também pelo caráter de atriz que ela tem. É impossível não ficar chocado com a entrega dessa atriz, que ainda no frescor da sua idade, já mostrava a que veio, assim como a partir da sua atuação pode-se distinguir de outros o verdadeiramente ator, aquele que salta do último trampolim com os olhos vendados, como ela mesma disse ter tido de fazer para quebrar o lustre que a protegia sob às luzes da televisão. José Wilker, Milton Moraes, Vera Fisher e Carlos Kroeber também estão no filme, e com ótimas atuações. Para quem deseja reflexão, e não é afeito a grandes frescuras, fica aqui uma sugestão. Com certeza algumas desconstruções a respeito da vida em sociedade sempre são feitas quando o ser humano se depara com uma obra de Nelson Rodrigues.

Abraços,

Atanael

Aos pedros pedreiros da vida


Prezados leitores,

Ouvi a música do Chico, que me foi apresentada por uma colega de trabalho, e resolvi que deveria postar. Foi depois de uma conversa com minha esposa, Keren, quando refletimos a respeito dessa cultura pós-moderna em que pedros e mais pedros nascem, crescem e vivem a esperar o trem que já vem, que já vem, que já vem... sem, muitas vezes, ter por onde. Estou me sentindo muito pedro pedreiro por esses dias... Deixo a letra e um link, http://www.youtube.com/watch?v=ERmJvNguGXI&feature=related,  para vocês refletirem sobre o assunto.

Abraços,

Atanael


Pedro Pedreiro

Composição : Chico Buarque

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem


sábado, 7 de maio de 2011

A outra cultura - Monteiro Lobato

"A história dos historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos povos. (...) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (...) da humanidade".

Monteiro Lobato
09/05/1913
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, São Paulo.

Guerras Culturais - Terry Eagleton

Tô de volta, pessoal!

Fiquei um tempo fora, porque vivi um momento brabo. Depois de espernear, saltar, e digamos quase pirar, enfim, voltei. Como já havia dito, tomei algumas decisões para poder lidar melhor com o tempo. Estou sentindo que já estou entrando no eixo novamente... Hoje vou deixar aqui um texto que eu rascunhei para uma discussão no meu grupo de estudo na Univille. Tem relação com o capítulo três do livro A idéia de cultura, de Terry Eagleton. O autor, filósofo, que já era doutor aos 24 anos de idade, começou a sua carreira estudando a literatura do século XIX e do século XX, até chegar à teoria literária marxista pelas mãos de outro fenômeno, Raymond Williams. No momento, Eagleton integra estudos culturais com a teoria literária mais tradicional. O texto, que apresento abaixo, é bem "simplezinho", mas em tempos de guerras culturais como as de Obama X Osama, vale à pena conferir. O livro é bom demais, então, se tiverem oportunidade...

Abraços,
Atanael


O termo "guerras culturais" sugere batalhas campais entre populistas e elitistas, como sugere Terry Eagleton, no capítulo de mesmo nome e que está no livro A ideia de cultura. Nesse capítulo o autor atribui a ação de guerrear no locus entre a cultura ocidental e as outras culturas, a que ele denomina como subcultura, dado o olhar depreciativo por parte do ocidente, que não considera outras raças, regiões, outros nacionalismos.
A respeito disso, Eagleton ainda afirma existir um choque entre Cultura e cultura, sendo que a primeira trabalha com valores universais e é capaz de alterar outras culturas. Ora, para Eagleton a palavra cultura possui diferentes acepções, sendo que esta ainda deva necessariamente realçar as diferenças, mas o que acontece em termos de pós-modernidade, sobretudo, no mundo ocidental, é que os interesses políticos é que governam os culturais e o definem como uma versão da humanidade. Fica, então, implícita a ideia de que a sociedade deve ser harmoniosa e responsável, humana e livre de quaisquer conflitos.
Eagleton ainda fala a respeito da existência da Alta e Baixa cultura, atribuindo à Europa a produção da primeira, tendo em vista que sem radicalismo ela "não impõe", mas apenas chama-a à razão. Ora, a Europa, coloca-se como sendo a própria cultura. Essa cultura tem sido usada como emblema espiritual, segundo o autor, de um grupo privilegiado, sendo ainda, que ela não considera os valores das formas de vidas particulares, mas sim, como um todo, como os valores da vida humana. Para Eagleton, a Europa é a encarnação local deste símbolo romântico em que idealizaram a cultura, e como ele mesmo diz, ela teve a sorte de ser escolhida por Geist como lugar onde ele se fez carne, assim como aconteceu com o planeta terra, que teve a sorte de ser o lugar onde Deus optou por se tornar humano.
Além disso, Eagleton afirma que a alta cultura implica numa visão global não só dos interesses próprios, mas também dos outros e que apresenta-se como uma forma de persuasão moral, mas que está fatalmente enfraquecida, pois se desligou de suas raízes religiosas e permitiu que o Ocidente todo ficasse por demais heterogêneo e briguento, contrariando ao que se propunha até então. Nesse sentido, é que todo ocidente perde terreno para chamadas subculturas, como a dos islâmicos, por exemplo, que é para quem a cultura religiosa é absolutamente vital. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Educação Patrimonial para a Joinville do futuro


Pessoal, querido!

Mil desculpas pela ausência. A estafa está tomando proporções gigantescas. Estou reduzindo carga horária na instituição em que trabalho para dar conta da vida. Prometo aparecer mais vezes por aqui. O artigo abaixo está em fase de confecção. Tem a ver com um trabalho que estou desenvolvendo para o mestrado.

Abraços,

Atanael

A cidade dos Sambaquis, de fato, atinge neste século a marca dos 515.250 habitantes, e ganha status de cidade grande ao ser considerada, pelo Ibge, como sendo, no momento, o maior município interiorano do sul brasileiro. Há quem, sob uma perspectiva romântica, que ainda prefira identificá-la como Manchester catarinense, cidade da dança, das flores, dos príncipes ou das bicicletas. No entanto, o cenário cotidiano, com ruas e avenidas abarrotadas de veículos, os constantes alagamentos a cada chuva (que não costuma ser pouca), o abandono do centro histórico da cidade em detrimento da modernização e da especulação imobiliária que atenta para os mais diferentes espaços, os transeuntes   que veem marquises como moradia, em pleno centro comercial da cidade, são alguns dos aspectos que não só põe em crise a identidade de Joinville, como também atestam para essa faceta um tanto paradoxal, que parece orgulhar a alguns que conseguem sentir-se bem por morar em uma “cidade grande”, e dispor de alguns “benefícios”, mas preocupar muito mais a outros, principalmente àqueles que pensam a cidade por um outro viés.
Ora, já dizia o poeta modernista Fernando Pessoa na pele de um dos seus mais célebres heterônimos: “eu sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura”. Nesse sentido, como é importante saber ser grande! Assim como ser grande se torna relativo no período em que vivemos. Então, saber olhar com diferentes visões passa ser um artifício necessário para o homem da pós-modernidade, fenômeno, esse, que deve ser entendido pelas universidades, que têm um compromisso social, efetivo, com sua comunidade, como um princípio para desenvolver, a partir de seus acadêmicos, um corpo de olhos que vise, sobretudo, o fazer provocar o passado. De maneira, que ao sair dos limites da instituição de ensino esses possam levar consigo um conhecimento vivo, que os possibilite interagir com a cidade, buscando soluções e alternativas que visem, principalmente, a sustentabilidade dos patrimônios culturais, já existentes, nos mais diferentes espaços. Porque ser grande para uma cidade tem muitos outros significados, sendo ainda impossível o ser sem que seu povo o seja. Para que uma cidade seja grande em toda extensão de sua palavra é preciso que ela pertença ao povo, mas é muito mais importante que ele se sinta pertencente a ela. É preciso que ele a conheça e se reconheça em seu espaço, que atue como participante em seus mais diversos segmentos culturais para que possa, assim, adquirir uma consciência social que o permita pensar em si, sobretudo pelo outro.
Joinville não é a única cidade do mundo que tenta, em tempos de descentralizações e fragmentações de identidades, criar uma imagem de si que a propague. É complicado, então, pensar que esta cidade possa ter apenas um, dois ou três slogans porque, culturalmente, uma classe hegemônica acredita ser o conveniente, assim como acreditar que os slogans criados para identificá-la sejam, de fato, coerentes com a memória coletiva da maioria de seu povo. Até, porque esse já não é o mesmo faz tempo. O sentimento de pertença é o que deve ser trabalhado nas mais diferentes comunidades brasileiras, e Joinville não foge à regra. Os espaços, considerados hegemônicos por sua beleza, por representarem ou ter representado a cidade algum dia, estão à mercê das iniciativas públicas e privadas. Alguns desses patrimônios materiais, em tempos de amnésias sociais, já não se comunicam com a comunidade joinvilense, ou por não provocarem o passado ou por não interagirem com o seu povo. Basta passar pela Rua das Palmeiras para sentir o completo abandono em que ela se encontra. A rua, que já foi referência e ainda o é, para os que conseguem a partir dela evocar o passado, deixou de ser objeto de contemplação para cumprir o mais triste dos papéis de uma rua: o de passagem.
 A revitalização dos patrimônios culturais deve pensar a comunidade como um todo, deve prover de meios e de infraestrutura física que permita a interação dos seus habitantes, de maneira que ele se sinta pertencente a esses espaços e também o adote como sendo verdadeiramente seu. Exemplos não são poucos, mesmo em nível municipal, como o caso da Estação da Memória, que apesar de ainda não causar o verdadeiro estupor que se espera de uma obra de arte (talvez pelo espaço limitado), tem levado uma pequena parte da comunidade a interagir no ambiente, assim como dado vida a um lugar dantes abandonado.
Mas os patrimônios culturais estão em todos os cantos desta cidade. Sejam materiais ou imateriais, eles querem, e devem, comunicar-se com o seu povo, que além de lazer precisa de educação patrimonial. Esse tipo de educação deve ir até os bairros, sendo que o poder público não deve apenas criar espaços novos, até porque antes de tudo é necessária uma preocupação maior com o ensinar a preservar. No entanto, é possível planejar a grandeza da cidade a partir de patrimônios já existentes (e que muitas vezes não se comunicam e/ou nunca se comunicaram com a comunidade), visando criar espaços vivos em que as comunidades possam interagir e, por que não, hibridizarem suas culturas. Deve haver parcerias com universidades, no sentido de levar às diferentes comunidades oportunidades de conhecer coisas novas, aprender novos ofícios a partir de cursos e oficinas, mas principalmente, oportunidades de aprender a preservar a sua história e de sentir o desejo de buscar por si.
Uma cidade grande é uma cidade consciente de sua história. A cidade de Joinville deve resgatar, principalmente em suas crianças e jovens, o ser joinvilense. É necessário, no entanto, saber afetar esses seres do agora, que em tempos de hipermídia e hipertextos aprendem de modo muito menos linear que as gerações passadas. Nada melhor, para isso, do que pensar estratégias dinâmicas, que respeitem os seus momentos, mas que também visem integrá-los aos patrimônios culturais dos quais estão próximos, no sentido de levar não só a vida para o lugar onde vivem como também a preocupação com a preservação desses espaços. Eles precisam saber, por exemplo, que antes de Joinville possuir todos os slogans que a atribuem, ela é, genuinamente, a cidade dos Sambaquis, e que por isso chama a atenção de estudiosos e especialistas no mundo inteiro para ela. Quando eles souberem, de fato, o que significa e o quanto isso tem a ver com suas vidas, estarão não só alfabetizados criticamente, como também saberão da importância de preservar o Sambaqui que faz parte da sua comunidade. E aí sim, poder-se-á transformar não somente esses locais, mas todos os outros patrimônios culturais de sua cidade, materiais ou imateriais, de maneira que eles sejam, não só convenientes a todos, mas que sejam também passíveis de integrar e rememorar todas as culturas.


quinta-feira, 24 de março de 2011

O JEITO CLARICEANO DE SER


"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"

Clarice Lispector

terça-feira, 15 de março de 2011

Oração da Serenidade

    Caros seguidores e leitores,
    Hoje, o que desejo a todos vocês é a SERENIDADE. Esse é um dom de extrema necessidade para enfrentarmos todas as agruras do dia a dia. Deixo para vocês esta pequena oração.
    Fiquem com Deus,
    Atanael
    Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma da outra – vivendo um dia de cada vez, desfrutando um momento de cada vez, aceitando as dificuldades como um caminho para alcançar a paz, considerando o mundo pecador como ele é, e não como gostaria que ele fosse, confiando em Deus para endireitar todas as coisas para que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida e sumamente feliz contigo na eternidade. Amém.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um Sarau Musical - Fernando Pessoa


Amigos,

Fernando Pessoa é atemporal. Vários poemas deste gênio foram musicados. Há, inclusive, alguns gravados em CDs. E são esses links que eu gostaria de deixar para vocês. Seguem abaixo.

Abraços,

Atanael

Segue o teu destino - Nana Caymmi
http://www.youtube.com/watch?v=dAjS2mAGdps

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.




Ricardo Reis, 1-7-1916


Meantime - Ritchie
Composição: poema de Fernando Pessoa musicado por Ritchie
Far away, far away,
Far away from here
There is no sorrow after joy
Nor away from fear
Far away from here...

Her lips were not very red
Nor her hair quite gold
Her hands played with rings
She did not let me hold
Her hands...playing with gold

She is somewhere past
Far away from pain
Joy can touch her not
Nor hope enter her domain
Neither love in vain

Perhaps at some day beyond
Shadows and light
She will think of me
And make for me a delight
Far away from sight...



Emissário de um rei desconhecido - Castro


Emissário de um rei desconhecido
Emissário de um rei desconhecido,
Eu cumpro informes instruções de além,
E as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me a um outro e anômalo sentido...
Inconscientemente me divido
Entre mim e a missão que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei dá-me desdém
Por este humano povo entre quem lido...

Não sei se existe o Rei que me mandou.
Minha missão será eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou...

Mas há ! Eu sinto-me altas tradições
De antes de tempo e espaço e vida e ser...
Já viram Deus as minhas sensações... 



D. João, o Primeiro - Elba Ramalho
http://www.youtube.com/watch?v=cws53WmERN4


O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
 
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
 
Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repelle, eterna chama,
A sombra eterna.


Ulisses - Zeca Baleiro
http://www.youtube.com/watch?v=T-j2H68_k7c

O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos creou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundal-a decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Drummond: Os ombros suportam o mundo


Pessoal,

Estou saindo de viagem agora, mas resolvi que não deveria partir sem antes falar de Drummond. Tenho contato com a obra dele desde muito menino e sempre que posso procuro em suas palavras acalento e respostas. "Sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia". Deixo para vocês duas poesias para suas reflexões.

Abraços e até quando Deus quiser,

Atanael



Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


                   Caso do Vestido

                                   Carlos Drummond de Andrade



Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?
Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.
Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?
Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.
Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.
Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.
O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.
Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!
Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.
Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.
E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós, 
se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,
chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,
me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,
mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.
Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro, 
beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.
Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,
me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,
que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...
Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.
Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio.  Disfarcemos.
Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.
Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.
E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.
Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.
Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,
só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.
Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.
Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.
O seu vestido de renda,
de colo mui devassado, 
mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.
Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.
Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.
Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio, 
visitei vossos parentes,
não comia, não falava,
tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.
Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,
perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,
minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,
minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.
Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.
Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,
pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.
Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,
que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido, 
última peça de luxo
que guardei como lembrança
daquele dia de cobra,
da maior humilhação.
Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.
Mas então ele enjoado
confessou que só gostava
de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,
fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,
me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,
me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,
bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,
dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.
Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito
de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.
Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.
Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?
quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?
quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?
quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?
Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.
Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.
Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada
vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,
mal reparou no vestido
e disse apenas: — Mulher,
põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,
comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,
comia meio de lado
e nem estava mais velho.
O barulho da comida
na boca, me acalentava,
me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito
de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.
Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.
 

domingo, 6 de março de 2011

Cantigas Trovadorescas - Releituras e Intertextos Atemporais

Olá, pessoal!

Os estudantes da 1ª série começam a estudar agora o Trovadorismo em Literatura, mas também aprenderam o que é uma intertextualidade na disciplina de Redação. Resolvi, então, deixar para todos, mas em especial para eles, um pouco das produções da época do Trovadorismo com alguns intertextos produzidos nos dias atuais. Na Idade Média os senhores feudais contratavam recitadores, cantores e músicos para divertir a corte. As cantigas eram compostas, quase sempre, por nobres que se denominavam trovadores, porque praticavam a arte de trovar. Surgiram nesse período muitas cantigas, sendo que algumas extrapolaram os limites dos castelos. Elas foram denominadas assim:

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do Feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).

Canção de Amor – D. Dinis
Cantiga de Amor Atual-
Composição: Lourenço e Lourival
Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e quererei muito aí louvar minha senhora 
a quem honra nem formosura não faltam
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela mais que todas do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo
quando a fez, que a fez conhecedora de todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu. 

Ao receber o convite do seu casamento
Desmoronou meu castelo de sonhos ao vento
Nao pude crer que de você partiu essa maldade
Será que esqueceu que quem te mas sou eu
Meu amor é verdade
Eu lhe perdoo por dizer que seu pai é o ocupado
Pois ele foi sempre contra o nosso noivado
E deu sua mão para outro no gesto apressado
Para nao permitir fosse ser mais feliz ao meu lado
Sem seu amor sou o homem mais pobre da terra
Sem carinho a vida se encerra
Sem seus beijos nao posso viver
O seu amor nesta vida é tudo que quero
Acredite meu bem sou sincero
Sem você sou capaz de morrer


Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado. 

Cantiga de Amigo – Martim Codax
Cantiga de Amigo Atual - Fico assim sem você
(Abdullah / Caca Moraes)
Ondas do mar de Vigo,
Acaso vistes meu amigo? Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar agitado
Acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amigo
Aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amado,
Por quem tenho grande cuidado (preocupado)?
Queira Deus que ele venha cedo!

Avião sem asa,
Fogueira sem brasa,
Sou eu assim, sem você
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola,
Sou eu assim, sem você...

Porque é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim...

Tô louco prá te ver chegar
Tô louco prá te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver,
Mas o relógio tá de mal comigo...

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta,
Romeu sem Julieta,
Sou eu assim, sem você
Carro sem estrada,
Queijo sem goiabada,
Sou eu assim, sem você...

Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver,
Mas o relógio tá de mal comigo...

Por quê? Por quê?



Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantiga de Maldizer – João Garcia Guilharde
Cantiga de Maldizer atual - Composição: Kika Simone/ Diego Maraschin
Ai, dona feia, foste-vos queixar 
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo; 
e vos direi como vos louvarei: 
dona feia, velha e maluca!


Eu só respeito (+2x)... à mim.
Não quero ver ninguém chorar mais por aí.
Não quero ver mais ninguém triste sem dormir.
Só vou escrever o que quero escrever.
Não quero que você cante para mim.
(Refrão)
Escutasse o que eu disse ou não?
Suas mentiras não querem sair.
E você pode achar a razão,
Ou que tem ela pra mim.
Eu não dirijo minhas palavras pra ninguém,
A não ser que não seja pra você.
Não tenho idade mais pra me enganar,
E sei que o trouxa aqui não sou mais eu.


Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Cantiga de Escárnio – Pero Larouco
Cantiga de Escárnio Atual - Atraso Ou Solução
Composição: Juca Chaves
Sobre vós, senhora, eu quero dizer verda Sobre vós, senhora, eu quero dizer verdade
e não já sobre o amor que tenho por vós:
senhora, bem maior é vossa estupidez
do que a de quantas outras conheço no mundo
tanto na feiúra quanto na maldade
não vos vence hoje senão a filha de um rei
Eu não vos amo nem me perderei
de saudade por vós, quando não vos vir.  de
e não já sobre o amor que tenho por vós:
senhora, bem maior é vossa estupidez
do que a de quantas outras conheço no mundo
tanto na feiúra quanto na maldade
não vos vence hoje senão a filha de um rei
Eu não vos amo nem me perderei
de saudade por vós, quando não vos vir. 
Já meia hora atrasada
o que em ti é natural.
Até pareces, querida,
com os nossos trens da central
isto ainda acaba mal.

Não brinques assim comigo,
com este teu vem ou não vem,
não faças de estação meu coração,
nem faças o teu de trem, tá bem?

Ai, ai, amor, ai que dor
eu sinto o ar esperar
até a chuva já veio,
mas não vens, ai, por que?
quem me dera, minha amada
se tu fostes viatura
cá da nossa prefeitura
pois te dava uma pedrada
muito bem dada.


 Espero que tenham gostado.

Abraços,

Atanael