Amigos, Ainda falando do tempo, trato aqui de um intertexto que o genial Chico Buarque fez do conto A Bola de Sebo, de Guy de Maupassant. Tanto o conto quanto a música Geni e o Zepelim (http://www.youtube.com/watch?v=jsB--twZgng) descrevem uma maneira realista a sociedade hipócrita, oportunista e sem memória em que, ainda, vivemos. É o tempo social que arrasta homens e mulheres num mesmo encadeamento de atividades e que, muitas vezes, os torna tão exatos que consequentemente os aliena. Fazendo-os, assim, perder o mais importante enquanto seres humanos que somos, ou seja, o bom senso. Fiquem com Deus, Atanael Geni e o Zepelim Chico Buarque/1977-1978 Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque | |
De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato E também vai amiúde Co'os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir Ela é um poço de bondade E é por isso que a cidade Vive sempre a repetir Joga pedra na Geni Joga pedra na Geni Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni Um dia surgiu, brilhante Entre as nuvens, flutuante Um enorme zepelim Pairou sobre os edifícios Abriu dois mil orifícios Com dois mil canhões assim A cidade apavorada Se quedou paralisada Pronta pra virar geleia Mas do zepelim gigante Desceu o seu comandante Dizendo –- Mudei de ideia – Quando vi nesta cidade – Tanto horror e iniquidade – Resolvi tudo explodir – Mas posso evitar o drama – Se aquela formosa dama – Esta noite me servir Essa dama era Geni Mas não pode ser Geni Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni Mas de fato, logo ela Tão coitada e tão singela Cativara o forasteiro O guerreiro tão vistoso Tão temido e poderoso Era dela, prisioneiro Acontece que a donzela – e isso era segredo dela – Também tinha seus caprichos E a deitar com homem tão nobre Tão cheirando a brilho e a cobre Preferia amar com os bichos Ao ouvir tal heresia A cidade em romaria Foi beijar a sua mão O prefeito de joelhos O bispo de olhos vermelhos E o banqueiro com um milhão Vai com ele, vai Geni Vai com ele, vai Geni Você pode nos salvar Você vai nos redimir Você dá pra qualquer um Bendita Geni Foram tantos os pedidos Tão sinceros, tão sentidos Que ela dominou seu asco Nessa noite lancinante Entregou-se a tal amante Como quem dá-se ao carrasco Ele fez tanta sujeira Lambuzou-se a noite inteira Até ficar saciado E nem bem amanhecia Partiu numa nuvem fria Com seu zepelim prateado Num suspiro aliviado Ela se virou de lado E tentou até sorrir Mas logo raiou o dia E a cidade em cantoria Não deixou ela dormir Joga pedra na Geni Joga bosta na Geni Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni |
Este é um espaço para discussão entre amigos e estudantes com a intenção de libertar seus pensamentos a respeito de assuntos interdisciplinares e socialmente relevantes, seja no âmbito literário / cinematográfico ou a partir de textos midiáticos. O Blog tem também a função de exercitar a linguagem escrita,sobretudo com os estudantes do Ensino Médio da escola em que atuo.
sábado, 5 de março de 2011
Tempo - Geni e o Zepelim - Chico Buarque
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