domingo, 30 de janeiro de 2011

Metade - Oswaldo Montenegro


Amigos,

Sou ser humano e também gosto de elogiar, mas hoje quero elogiar um cantor, poeta e compositor de qualidade internacional. Ele se chama Oswaldo Montenegro. Há quem diga que ele seja esnobe, arrogante... Mas na verdade acho que Oswaldo está acima de todas as vãs filosofias... Seus textos traduzem muito dos nossos sentimentos, daquilo que se passa no nosso inconsciente. Basta ouvir esse clip cujo link está abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=ze3yMTMB8-Y

Abraços,

Atanael


METADE


Oswaldo Montegro
Composição: Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Eu não o conheci - Oswaldo França Jr



Caro leitor,

Ainda a respeito do tema PAIS e FILHOS que eu tratei no último post a partir da música de Ivan Lins, gostaria de lembrar de um pequeno conto que eu li em sala de aula na época em que ainda cursava o Ensino Fundamental. A verdade é que chamou-me muita a atenção, talvez porque meu pai era um homem muito ocupado e não tinha como me dar a atenção que eu tanto almejava... Talvez por isso, por essa falta irreparável, eu me culpe tanto quando não consigo dar a atenção devida ao meu filho. Lamentações à parte.... Fica o conto para vocês refletirem um pouquinho. Sintam-se à vontade para fazer comentários.

Abraços,

Atanael

Eu não o conheci

Oswaldo França Jr.

Meu filho foi embora e eu não o conheci. Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa é que vejo, como era necessário tê-lo conhecido.

Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.

Um dia, na sala ele me pegou na barra do paletó e me fez examinar o seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.

Uma outra vez me pediu que consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo. Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete dormindo e abraçado ao brinquedo velho. O novo estava num canto.

Eu tinha um filho e agora não tenho porque ele foi embora. Este meu filho, uma noite me chamou e disse:
- Fica comigo. Só um pouquinho, pai.
Eu não podia, mas a babá ficou com ele.
Sou um homem muito ocupado. Mas meu filho foi embora.

Foi embora e eu não o conheci.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Aos Nossos Filhos


Amigos,

Curto muito a música Aos nossos filhos, de Ivan Lins, seja pelo tema que mexe, sobretudo, para quem é pai e mãe, e que devido às intempéries da vida cotidiana acaba deixando um pouco a desejar no quesito atenção ou até para entender e valorizar nossos pais, perdoando-os por aquilo que nos faltou... A música em si é linda e o ritmo e voz melodiosa do intérprete fazem dela única. Quem nunca ouviu, eis um link:


Abraços,
Atanael

Aos Nossos Filhos
Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim
E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim
Quando lavarem a mágoa
Quando lavarem a alma
Quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim


Maioridade Penal


3ª Série

2ª Postagem


Prezado Leitor,

Li hoje em A Notícia a matéria abaixo, que apesar de se apresentar corriqueira, devido aos inúmeros casos de corrupção no país, chamou-me à atenção quando refleti sobre as personagens envolvidas no episódio:

Meninas com estágio no crime

Desvio a partir de assinaturas falsas chegou a R$ 175 mil em Jaraguá do Sul

Duas adolescentes de Jaraguá do Sul foram ouvidas na tarde de ontem, na Delegacia da Mulher, e confessaram desvio de R$175 mil de um banco onde foram estagiárias. Outros dois adolescentes ainda devem ser ouvidos pela polícia.

“São meninas bonitas, escoladas, de classe média”, disse o delegado  Marco Aurélio Marcucci. Segundo ele, a mais velha, de 17 anos, montava um conteúdo interno do banco. Preenchia, falsificava a assinatura de dois gerentes, ia ao penhor e sacava o dinheiro.

A menina foi demitida do estágio por outro motivo. A segunda menina, de 16 anos, amiga da primeira, começou a estagiar no mesmo banco e deu continuidade ao golpe. Durante um ano e três meses elas desviaram dinheiro, até o banco desconfiar e abrir uma auditoria.

A adolescente mais nova confessou a infração. “Ela disse que a mais velha era a criadora do esquema”, conta Marcucci. A menina mais velha, que confessou o crime, disse em depoimento que o dinheiro era gasto com roupas caras, eletrônicos, óculos de grife e baladas.

O delegado recebeu ontem o namorado da adolescente mais velha. Ele foi devolver um Ford Fiesta comprado pela namorada, à vista, mas que estava no nome dele por ser maior de idade. “O garoto parecia não saber do golpe. Pois ela disse a ele que tinha ganhado uma herança da tia”.

Outros dois adolescentes deverão ser ouvidos nesta segunda-feira, suspeitos de participarem do golpe. O delegado explicou que vai encaminhar o caso em 15 dias para o Ministério Público.

A leitura desta notícia levou-me a refletir sobre a questão da  maioridade penal, também conhecida como idade da responsabilidade crimininal, que é a expressão usada para explicitar a idade a partir da qual o indivíduo pode ser penalmente responsabilizado por seus atos, em determinado país ou jurisdição.
A verdade é que, apesar de no Brasil, alguns menores infratores saírem quase que impunes por seus atos grotescos, em outros países como os Estados Unidos a situação não é tratada da mesma maneira, visto ser o indivíduo infrator, abaixo da maioridade penal, sujeitado, a partir de certa idade, a punições mais leves, como detenções ou internações em instituições correcionais ou reformatórios.
O que intriga a mim e talvez a você, no entanto, é a questão de que a maioridade penal não coincide, necessariamente, com a maioridade civil, nem com as idades mínimas necessárias para votar, para dirigir, para trabalhar ou  para casar, por exemplo. No caso das meninas estagiárias de Jaraguá a situação é ainda mais preocupante, pois dada a condição social e o histórico que permeia também o repertório político do país, não duvidemos que amanhã estejam à frente de algum cargo público... Lembremos, porém, que o corrupto de hoje, só o é porque sofreu influência de um meio perverso, e que muitas vezes lhe negou uma correção, um momento de reflexão, ou seja uma educação ampla e de qualidade, porque educação não é somente a institucional com conteúdos que tenham fim em si mesmos. Não tenha dúvidas, caro leitor, que foi a falta de uma (s) intervenção (s) à altura que levou esses sujeitos, assim como outros que vemos aos montes nos jornais, a chegarem ao fundo do poço tão precocemente.
Não quero entrar no mérito de que os governos, em especial o brasileiro, tenham de investir em educação de qualidade, porque isso, apesar de de ser a pura verdade, já virou clichê saído da boca de político, por vezes até corrupto, que não é educado, e que portanto, não sabe o que é educação de qualidade. Deixarei, portanto, esse assunto para discutir em outra postagem, visto que ele merece uma atenção especial, e que com certeza suscitará uma série de discussões.
Voltando ao assunto da maioridade penal, lembro também do episódio da morte do menino João Hélio, de 6 anos, arrastado por um carro depois de um assalto no Rio de Janeiro, há quase quatro anos atrás e que reacendeu o debate sobre a redução da maioridade penal no país. A princípio, como em outros crimes violentos, esses menores de idade que acabaram com a vida de João Hélio e deixaram uma ferida para sempre aberta no seio de sua família, deveriam ficar no máximo três anos presos. Não sei como ficou o caso, mas é certo que em termos de maioridade penal no Brasil as coisas continuam do mesmo jeito. Pela legislação brasileira, um menor infrator não pode ficar mais de três anos internado em instituição de reeducação, como a Febem. É uma das questões mais polêmicas a respeito da maioridade penal. As penalidades previstas são chamadas de “medidas socioeducativas”. Apenas crianças até 12 anos não podem ser julgadas ou punidas pelo Estado. Além disso, vale dizer que de 12 a 17 anos, o jovem infrator será levado a julgamento numa Vara da Infância e da Juventude e poderá receber punições como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade ou internação em estabelecimento educacional. Em hipótese alguma poderá ser encaminhado ao sistema penitenciário.
Em relação a outros países a legislação brasileira entende que o menor deva receber um tratamento diferenciado em relação ao que é aplicado ao adulto, pois acredita que o menor de dezoito anos não possui desenvolvimento mental completo para compreender o caráter ilícito de seus atos. Desta forma, a legislação adota o sistema biológico, em que é considerada somente a idade do jovem, independentemente de sua capacidade psíquica. Como já dito no início deste texto, em alguns países como Estados Unidos e também a Inglaterra não existe idade mínima para a aplicação de penas. Nesses países são levadas em conta a índole do criminoso, tenha a idade que tiver, e sua consciência a respeito da gravidade do ato que cometeu. Em Portugal e na Argentina, o jovem atinge a maioridade penal aos 16 anos. Na Alemanha, a idade-limite é 14 anos e na Índia, 7 anos.

Para você, estudante que quer aprimorar seus conhecimentos e saber discutir diversos assuntos, deixo uma tarefa: - Reflita sobre o assunto Maioridade Penal e sobre as notícias aqui apresentadas e logo após faça uma pesquisa a respeito das questões abaixo. Não esqueça, gostaria que você deixasse postada uma crítica de no máximo dez linhas a respeito do aspecto que mais lhe intrigou. Vejamos:

1. Quais os argumentos para reduzir a maioridade penal no Brasil?
2. Quais mudanças são propostas em relação à maioridade penal?
3. O que dizem os que são contra a maioridade penal?
4. Autoridades e/ou personalidades que se manifestaram a respeito do assunto.
5. Quais são os trâmites legais para reduzir a maioridade penal?
6. Quais propostas sobre maioridade são ou serão avaliadas pelo Congresso Nacional?
7. Quando a Câmara dos deputados votará as propostas de redução de maioridade penal?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Discurso da Desigualdade Social

1ª Postagem
3ª série
Para refletir:
“A forma mais visível de desigualdade é a material, aquela que opõe pobreza e riqueza. No entanto, essa não é a única forma de desigualdade existente. Há muitas outras não tão visíveis, mas nem por isso menos reais.
As questões relativas à linguagem são, assim como a diferença material entre pobreza e riqueza, questões relativas a formas específicas de desigualdade. A diferença (variedade lingüística) que pode ser observada no interior da nossa sociedade não pode ser interpretada apenas como “diferença”. Isso, porque, forçosamente, em nossa sociedade a diferença é entendida em termos de desigualdade, em termos hierárquicos. Por exemplo: o uso de termos como “pobrema” e “problema” são entendidos pelas pessoas não como sinal de diferença, mas como sinal de ignorância ou cultura. Ou seja, em termos de desigualdade hierárquica faz com que as pessoas sejam classificadas como se estivessem “acima” ou “abaixo”, em termos sociais.”

Ana Paula Berberian
Alexandre Bergamo

Dado o fragmento textual acima, disserte em 10 linhas a respeito do que você pensa a respeito do assunto. Pesquise e discuta com seus amigos antes de deixar aqui a sua marca a respeito do assunto.

Mudanças Climáticas - Entrevista com Carlos Nobre

2ª série

2ª Postagem


Prezados Leitores,
Como já constatamos em sala de aula, existem diferentes tipos de entrevista, entre os quais a entrevista, de emprego, a entrevista médica, a entrevista jornalística, etc. Basicamente um gênero oral, a entrevista pressupõe uma interação entre duas pessoas, dada uma com um papel específico: o entrevistador, responsável pelas perguntas, e o entrevistado (ou entrevistados), responsável pelas respostas.
Entre os tipos de entrevista, o que costuma despertar maior interesse público é a entrevista jornalística, difundida pelos meios de comunicação orais e escritos, como o jornal falado da TV, o rádio, o jornal escrito, a revista e a internet. Antes de ser publicada em revistas ou jornais escritos, a entrevista geralmente é feita de forma oral, quando é gravada, e depois transcrita para a linguagem escrita. Na passagem da linguagem oral para a escrita, quase sempre são realizadas modificações nas falas originais.
Cereja, William Roberto. Português linguagem: 2009 -  p. 240)

Gostaria de que você lesse a entrevista abaixo e deixasse uma posição a respeito do assunto, afinal ele diz respeito a todos nós.

Abraços,

Atanael

 A entrevista foi feita como Carlos Nobre à IHU on line


A Amazônia está aquecendo. Entrevista especial com Carlos Nobre à Carbono Brasil
19/11/2010    -  Fonte: IHU On-Line

“As variações climáticas das chuvas são rotineiras. O que nos chama a atenção é que num intervalo de cinco anos, do início da primeira de 2005 até agora, nós tivemos a mais drástica seca, a terceira maior seca no rio Amazonas e, ainda, tivemos a maior enchente do mesmo rio em 2009”, fala Carlos Nobre ao analisar os fenômenos climáticos extremos que têm atingido diretamente a Amazônia. Em entrevista, concedida por telefone, à IHU On-Line, o meteorologista Carlos Nobre analisou as secas que assolam a região amazônica e analisou as consequências de uma possível savanização de parte da floresta. E questionou: “o que está acontecendo? Nós ainda não temos uma explicação completa sobre o porquê estamos vendo tantos recordes sendo quebrados em termos de cheias e secas na bacia do rio Amazonas em tão pouco espaço de tempo”.

Carlos Nobre é engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Na Massachussets Institute of Technology (EUA), realizou o doutorado em meteorologia. Recebeu o título de pós-doutor da University of Maryland (EUA). Atualmente, é pesquisador sênior no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
É autor das obras Amazonian deforestation and climate (New York: John Wiley and Sons, 1996) e Regional Hidrological Impacts of Climatic Change - Impact Assessment and Decision Making (Oxfordshire: International Association of Hidrological Sciences, 2005).Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que há de anormal nessas secas na Amazônia?

Carlos Nobre –
As variações climáticas das chuvas são rotineiras. O que nos chama a atenção é que num curto intervalo de cinco anos, do início da primeira seca em 2005, nós tivemos a mais drástica seca agora, a terceira maior seca no rio Amazonas, e, ainda, tivemos a maior enchente do mesmo rio em 2009. Em cinco anos, portanto, tivemos alguns recordes climáticos quebrados. A questão é: o que está acontecendo? Nós ainda não temos uma explicação completa sobre o porquê estamos vendo tantos recordes sendo quebrados em termos de cheias e secas na bacia do rio Amazonas em tão pouco espaço de tempo. Isso gerou uma enorme tensão internacional que está estudando esses fenômenos. Nós esperamos que, talvez em 2011, nós consigamos algumas explicações.

A causalidade, o que fez as chuvas atrasarem, nós podemos explicar. A questão é: por que essa coincidência de extremos climáticos num curtíssimo espaço de tempo? Há 108 anos nós registramos todos os fenômenos de clima da Amazônia e não há nada parecido com o que vivemos hoje. Uma das possibilidades, não é a única, não temos certeza ainda, é: se o planeta continuar aquecendo desta forma como está acontecendo atualmente, em até 50 anos esse tipo de extremidade se tornará uma variação climática habitual. Portanto, se não conseguirmos reverter o aquecimento global esta é uma amostra de como será o clima no futuro.

IHU On-Line – Como o senhor caracteriza as secas na Amazônia?

Carlos Nobre – Tem dois tipos de secas na Amazônia: as secas que são causadas, principalmente, por perturbações climáticas que se originam no Oceano Pacífico associadas com seu aquecimento ou esfriamento e isso causa uma seca acentuada no norte e leste da Amazônia, ao redor de toda a América do Sul Tropical.

Outro tipo de seca é induzida pelo Oceano Atlântico mais quente que muda a circulação atmosférica em cima da Amazônia, diminuindo as chuvas uma vez que o transporte de umidade diminui. Todo o sistema do Oceano Atlântico está dentro do continente e influencia diretamente no nosso clima. Então, essas são as tipologias de secas e hoje nós temos um bom entendimento desses dois tipos. O que nós não temos ainda é a capacidade de prever a longo prazo, como por exemplo, como vai ser o regime de chuvas num intervalo de um ano ou dois anos.

IHU On-Line – Qual é a redução na quantidade de chuvas necessária para desestabilizar a floresta?

Carlos Nobre –
Existe um cálculo para isso. É sempre uma combinação dos níveis de chuva e aumento de temperatura. Então, se o aquecimento global ou o desmatamento na Amazônia causarem uma mudança permanente do clima em que a soma média da região diminuía em torno de 10% ou 15% e a temperatura aumente quatro graus, as duas coisas ocorrendo, mais de 50% da Amazônia se tornará uma região propícia a outros tipos de vegetação. Com isso, ou teremos uma floresta seca ou um tipo de savana bastante destacada, diferente do cerrado do centro e do sul da Amazônia, pelo empobrecimento. Esses são os cenários previstos, portanto.

IHU On-Line – Muito do clima do Brasil depende do clima da Amazônia. Com uma possível savanização de parte da Amazônia, quais seriam as consequências para o clima do país?

Carlos Nobre –
Hoje, não conseguimos estabelecer uma relação clara entre as chuvas da Amazônia e o clima do país. Há um número pequeno de estudos que indicam a relação com a chuva de inverno no sul no Brasil, norte da Argentina, Uruguai, Foz do Iguaçu... A floresta é muito importante para o clima da própria Amazônia. Disso tenho certeza. As chuvas seriam maiores na Amazônia se não houvesse a floresta. A influência do clima da Amazônia no resto do país e no clima do mundo é algo que nós temos alguma ideia, mas não há qualquer comprovação forte. No entanto, pode haver mudanças nesse sentido se a Amazônia for desmatada.

IHU On-Line – Como podemos entender o efeito de fertilização do CO2 sobre a floresta amazônica?

Carlos Nobre – O CO2, de modo geral, é um combustível da fotossíntese. Quanto mais CO2 houver na atmosfera, até um certo limite, as plantas gostam, elas produzem mais matéria orgânica. O que nós não sabemos é como um sistema complexo como uma floresta tropical, que não é uma coisa simples, responde ao aumento do CO2. O que sabemos é que uma floresta tropical não responde da mesma maneira que uma plantinha qualquer. Vários experimentos foram feitos no hemisfério norte mostraram que nesses ambientes o quanto essas florestas acumula de CO2 é 25% acima do valor máximo que ela precisa para o crescimento. Isso porque um sistema complexo responde a uma série de fatores e não somente ao CO2.

A grande incerteza em relação à Amazônia é que não sabemos como a floresta tropical responderá por que nunca fizemos um experimento desses. Isso porque é uma experiência muita complexa e muito difícil, porque é preciso criar um ambiente de muitas árvores, necessita da implementação de sensores de gás carbônico e tem que manter a atmosfera enriquecida de CO2 até um certo valor por muitos anos. É algo nada trivial e na Amazônia seria menos trivial ainda. Portanto, não sabemos como a floresta tropical responde ao aumento da quantidade de CO2 na atmosfera.

As florestas, de um modo geral, aguentam mais as mudanças climáticas. Portanto, elas respondem perfeitamente ao aumento de CO2 porque ela é muito resistente. Mas não sabemos qual é a resposta de uma floresta tropical. Aí está a grande questão.

IHU On-Line – O que é necessário fazer para mudar essas previsões?

Carlos Nobre –
Duas coisas: uma está ao alcance das mãos dos brasileiros. É a construção de políticas públicas que foquem na redução dos desmatamentos da Amazônia. Isso vem ocorrendo nos últimos anos. Vamos dizer que estamos no caminho certo uma vez que o desmatamento está diminuindo. Precisamos continuar e reduzir para zero. Agora, mesmo que consigamos fazer tudo isso, se o aquecimento global continuar sem alterações, na segunda metade deste século já vamos ter efeitos muito graves na Amazônia. E isso pode levar a um risco de savanização da Amazônia. Podemos zerar o desmatamento, mas isso terá um efeito muito pequeno com o advento do aquecimento global. Temos que criar uma estratégia mundial de redução das emissões, não só no Brasil. Esse é o grande desafio. Se não reduzirmos as emissões das florestas tropicais, em especial a Amazônia, pagaremos um preço muito alto.

Ambiguidade Textual

1ª Postagem
1ª Série
Prezados Leitores,
Como já vimos e exercitamos em sala de aula, a AMBIGUIDADE TEXTUAL ocorre quando a leitura do texto oferece ao seu leitor mais de uma interpretação, seja pela ordem das palavras, estrutura da frase ou inadequação ao contexto. Abaixo, deixo uma crônica do consagrado Carlos Drummond de Andrade. Deixo também um exemplo de ambigüidade no texto publicitário e um exemplo legal no texto cuja linguagem é não verbal. Aos que se sentirem interessados em deixar algum comentário, ficam aqui duas possibilidades para análise.

Abraços,
Atanael

VÓ CAIU NA PISCINA

Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra o garoto:
– Pai, vó caiu na piscina.
– Tudo bem, filho.
O garoto insiste:
– Escutou o que eu falei, pai?
– Escutei, e daí? Tudo bem.
– Cê não vai lá?
– Não estou com vontade de cair na piscina.
– Mas ela tá lá...
– Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho descansado.
– Tá escuro, pai.
– Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta. Se não voltar, dá no mesmo. Pede à sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui mesmo, sossegado.
– Pai...
– Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta pro Rio, e você custa a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
– Vó tá com uma vela.
– Pois então? Tudo bem. Depois ela acende.
– Já tá acesa.
– Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, você sabe muito bem que sua avó não precisa de guia.
– Por quê cê não acredita no que eu digo?
– Como não acredito? Acredito sim.
– Cê não tá acreditando.
– Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse: tudo bem. Que é que você queria que eu dissesse?
– Não, pai, cê não acreditou ni mim.
– Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei. Quantas vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
– Não te chamei de mentiroso.
– Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É um direito dela. Não tem nada de extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio resfriado.
– Ô, pai, cê é de morte!
O garoto sai, desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada. Daí a pouco chega a mãe:
– Eduardo, você sabe que dona Marieta caiu na piscina?
– Até você, Fátima? Não chega o Nelsinho vir com essa ladainha?
– Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo para que tirem ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando muito, e se você não for depressa, ela vai ter uma coisa! Ela morre, Eduardo!
– Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar também dentro d’água.
– Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou que a senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
– Está bem, Eduardo – disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre empunhando a vela que conseguira manter acesa. – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu? Nelsinho falou direito, você é que teve um acesso de burrice, meu filho!


ANDRADE, Carlos Drummond de. Vó caiu na piscina. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1996.

AMBIGUIDADE NO TEXTO PUBLICITÁRIO




LINGUAGEM NÃO VERBAL

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nádia Bossa - O aprender




Aos meus leitores que se preocupam com o ato de aprender e se dão conta da importância da função socializadora do Ensino, deixo como reflexão um pequeno texto que li outro dia de uma psicopedagoga de renome em nosso país.

“O desejo de aprender reside no inconsciente, e, é claro, é fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue estabelecer com o conhecimento ao longo da vida.”
(Bossa, Nádia: 2000)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um caso de Poesia


Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos. feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.


Drummond

 



Fernando Pessoa - Poema do Menino Jesus



Caros,

Sou vidrado em Fernando Pessoa, em seus pseudônimos... Dentre esses, mexe mais comigo a aura pastoril de Alberto Caeiro. Ter estudado este poeta português passou a ser uma das melhores recordações que tenho da faculdade. Quem não conhece a temática que envolve os pseudônimos criados por Pessoa, para expressar os diferentes sentimentos humanos e suas concepções, está na hora de procurar por ele. Pessoa é incomparável, é lei para a vida. Abaixo, um poema dele que pode ser encontrado no You tube, declamado por ninguém menos que Maria Bethânia. Ah, tem um livro que se chama Conversa com Fernando Pessoa, e que, vale à pena presentear alguém que a gente ama.
Abraços,
Atanael

Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

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Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

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Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

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Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?


                          Alberto Caeiro


http://www.youtube.com/watch?v=gWI1gs0dJYk